quarta-feira, 15 de julho de 2015

Artigo Técnico - Reprodução

Emprego de bigamia e poligamia na criação de canários de porte
Autor: Claudemir Martins Soares
MSc. Em Produção Animal e Dr. em Ciências Ambientais
Sócio COM – Clube Ornitológico de Maringá e YCCB – Yorkshire Canary Club do Brasil
Artigo publicado na Revista do Clube Ornitológico de Maringá em 2015 

Na criação de canários o uso de um macho para duas ou mais fêmeas é uma prática que ainda esta envolvida por alguns tabus e também por muita falta de conhecimento de como fazê-lo. Seu emprego exige um manejo diferenciado necessitando de maior disponibilidade de tempo e, ainda, um senso de observação e paciência e até uma combinação de sensibilidade e criatividade, por parte de criador, para ir manejando os pássaros para que se tenha sucesso. Por isso é preciso destacar que deve ou, deveria ser usado apenas em caso de se ter um macho excepcional no que se refere ás características da raça que se pretende fixar. Não é aconselhável que sejam aplicadas com machos medianos nestes quesitos.
Em termos conceituais denomina-se monogamia quando se usa casais fixos, bigamia quando se usa um único macho para duas fêmeas e, poligamia quando um macho é utilizado para mais de duas fêmeas. Muitos usam erroneamente o termo bigamia para o uso de um macho para várias fêmeas.

Entre os principais pontos da bigamia e poligamia que tornam estas práticas vantajosas destaca-se:
1)      Melhor aproveitamento de um macho excepcional de alto padrão;
2)      Ideal para fixação de linhagem;
3)      Redução de investimento por reduzir a necessidade de aquisição de machos;
4)      Excelente manejo pra produção de quartetos para concursos.

Bigamia e poligamia na prática, o que aprendi em minhas experiências:
O canário (Serinus canaria) é uma espécie naturalmente monogâmica que forma casais fixos na estação de reprodução tirando ninhadas seqüenciais e, por isso quando se pretende usar um macho com mais de uma fêmea e preciso se munir de estratégias que possibilitem este manejo e romper essa barreira comportamental. Partindo desse principio o que descrevo a seguir e para o uso de manejo com fêmeas em gaiolas individualizadas.

Principais dificuldades
Indivíduos que não se adaptam ao manejo
A maioria dos machos e fêmeas que se adaptam perfeitamente ao uso de bigamia ou poligamia e alguns precisa apenas de um cuidado maior nas primeiras rodadas para se adequarem. Entretanto, infelizmente, nem todos canários (machos ou fêmeas) se adaptam bem a este manejo e com certos casos onde a dificuldade é grande. Tive uma fêmea que mesmo sendo acasalada normalmente na primeira rodada não aceitava o macho de volta, ao ponto de perder duas rodadas com ovos brancos. Na primeira rodada corria tudo normal, mas na volta do macho para mais um ciclo acontecia brigas constantes. É comum acontecer de algumas fêmeas, na ausência no macho, abandonarem os ninhos com ovos e iniciar novo ciclo reprodutivo. Nestes casos é preciso ponderar se convém usar esta fêmea desta forma.
Existem machos que, por terem formado casal fixo, com a primeira fêmea que estiveram acasalados, exibem comportamento de brigas com a segunda fêmea e, por muitas vezes, pode não galar os ovos desta. Nestes casos uma estratégia para contornar o problema e deixá-los separados das fêmeas, por um intervalo (5 a 7 dias), sem ver a fêmea "antiga", para ser juntados com uma nova fêmea. Por outro lado, tive machos que bastava trocar de gaiola e já estavam galando, imediatamente, se a fêmea pedisse gala. Nos casos dos machos percebi que podem ser "treinados" e que a partir da segunda postura essas brigas diminuem ou desaparecem e no próximo ano se adaptam com muito mais facilidade ao manejo.

Quanto ao manejo, como estamos falando de reprodução, um fator que não temos o total controle, já me deparei com duas situações que exigem métodos diferentes:

1) Quando as fêmeas se aprontam em períodos diferentes (semanas diferentes)
Neste caso se usa o manejo tradicional já descrito acima. Deixando o macho com a 1º fêmea e assim que ela terminar a postura passar ele com a outra. O que faço de diferente do usual é passar o macho junto com a outra por umas horas a cada dois ou três dias para eles irem se acostumando e para que eu possa observar o comportamento dos mesmos.

2) Quando as fêmeas se aprontam juntas (nos mesmos dias)
Estes casos exigem mais tempo por parte do criador e também mais manipulação dos pássaros. Para minimizar a ocorrência de ovos brancos convém fazer com que o macho fique parte do dia com cada uma das fêmeas. Os horários para serem feito a passagem do macho vai depender do tempo disponível que o criador tem para isso. Nas bigamias poderia ser colocado o macho de manhã até a hora do almoço com uma e a tarde com outra. Pode–se também deixar o macho com uma das fêmeas das 18h00 as 07h30, que teria o final da tarde e a parte da manha para copularem, e com a outra no restante do tempo. No caso das poligamias é possível deixar o macho de manha com uma, da hora do almoço antes do entardecer com outra e a tardezinha e manhã com a última. Já tive um caso de fazer três turnos com um macho e ter os ovos das três fêmeas galados. É comprovado que um único dia galando pode fecundar todos os ovos de um ciclo de postura, mas é melhor não corrermos o risco e ter o macho com as fêmeas todos os dias. De qualquer forma, nestes casos o mais aconselhável é passar os ovos de uma das fêmeas ou duas fêmeas para uma ama para que as próximas posturas passem a ser intercalados facilitando o rodízio do macho.
O mais usual é deixar as fêmeas em gaiolas diferentes e ainda de forma que as mesmas não se vejam. Embora seja exceção, existem criadores que obtiveram sucesso, no caso de bigamias, com o trio sendo solto junto na mesma gaiola com um ninho de cada lado. Os problemas que podem ocorrer em deixar duas fêmeas são: Brigas entre elas; uso de um só ninho pelas duas fêmeas e risco de quebra de ovos ou os filhotes eclodirem com idades muito diferentes e, ainda, briga do macho com uma das fêmeas.
Mesmo ma bigamia convencional, com alguns machos, no passado, tive o problema de brigas ao serem colocados com a segunda fêmea após ficarem por vários dias com a primeira. A saída par evitar este inconveniente nestes casos é fazer algo um pouco diferente do que eu aplicava. Ou seja, mesmo as fêmeas estarem ainda sem interesse em fazer ninho pode-se deixar o macho cada dia com uma delas. Uma prática que reduz as brigas do macho com uma das fêmeas e também o abandono de ninho e distribuir as gaiolas com tapumes de forma que as fêmeas não se vejam e que também o macho não veja outra fêmea que estava antes.

Gaiolas
O uso de bigamia ou poligamia pode ser tranquilamente realizado com gaiolas “argentinas” convencionais com uma fêmea em cada gaiola e o mancho sendo transferidos manualmente de uma para outra. Depois de devidamente acasalados os machos mesmo sendo pegos na mão copulam com as fêmeas que pedem gala logo em seguida. Entretanto existem gaiolas especificas para este fim que diminuem a manipulação dos machos com o uso de grades divisórias assim não se faz necessário o pegar o macho não mão reduzindo o risco de stress ou acidentes.

Quando separar o macho das fêmeas
É uma etapa decisiva e delicada, pois pode acabar com um ninho abandonado em pleno choco e risco de perder os ovos. Mais uma vez se aplica a capacidade de observação do criador em relação ao comportamento das fêmeas, pois algumas podem ser separadas já no dia da postura do terceiro ovo e outras requerem ficar com os machos por dois a três dias depois de terem botado o ultimo ovo para não abandonarem o ninho. Ocorrem ainda alguns casos de fêmeas que abandonam o ninho todas as vezes que são separadas do macho, convém, portanto, nesses casos avaliar se vale a pena usar estas em bigamias uma vez que podem se desgastar por terem os espaço entre as posturas reduzido, alem de dificultar o manejo do macho com as demais fêmeas.

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